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quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Amor commoditie

Ainda na adolescência li uma frase de Che Guevara que dizia que todo revolucionário é guiado pelo sentimento de amor. Me assustei, pois achava que o amor era coisa de fracos, de românticos babacas, de  hipócritas sentimentalistas.
Muito mais velho fui entender de qual amor falava o “Che”, pois o amor que tanto ouvia pelo mundo, perdera a tempo seu real significado.
 Sempre esbravejavam pela cidade que Deus é amor, e que devemos amar ao próximo, como nós nos amamos...
Mais tarde me deparei com o velho anarquista Roberto Freire, que enfático afirmava que o amor é libertário, e não prisão, e que paulatinamente fomos forçados a desaprender o que é amar, pois nos forçaram a um amor burguês e narcísico.
Sinceramente me embrulha o estômago pensar no que as pessoas mais amam, pois seus amores estão cada vez mais vazios de sentido e corrompidos pelos tentáculos do capital.
Se o rapaz amasse o mendigo assim como ama seu carrinho Sport vermelho e com rodas que o papai lhe deu...
Se a Moça bela amasse o menino de rua como ama seus míseros sapatinhos...  
Se o velho empresário amasse mais seus filhos do que suas amantes...
Se a coroa rica e carente amasse seus empregados como ama seu poodle...
Se os adolescentes dissessem “amo muito tudo isso” no almoço de domingo com a família, e não no Mac Donalds...
Eis a dura conclusão! O amor foi vendido, simbolizado, denegrido! Assim como o movimento hippie dos anos 60, assim como a imagem do Che em camisetas, assim como o movimento ambientalista em produtos “ecológicos” variados. Virou produto.
Vende-se amor!
Sábios publicitários: vendem a promessa de termos de volta o que perdemos...
“Eu quero isso... Eu quero isso...o amor...eu quero...”
Vende-se a sensação de amor na propaganda de perfume, no comercial do iogurte, no banco vermelho e branco, na novela... Mas vende-se só a sensação.
Assim o amor se torna o vácuo de quem o consome, uma relação narcísica com nosso ego. A tempos deixamos de amar, pois tudo que nos afronta temos asco, tudo que nos provoca e desafia, temos desprezo.
Mas como amar se o mundo se transforma de maneira cruel?
Vejam as dicotomias:
Os casamentos cresceram em número, mas os divórcios dobraram.
A aceitação de membros homossexuais na família aumentou, mas a violência e agressões contra os mesmos também.
A mortalidade infantil caiu em todo mundo, mas aumentaram os suicídios...
Não se sofre mais de hanseníase, mas sim de depressão...
Ah... a paz e a felicidade num comprimido de Valium...
Saímos da missa e assistimos lutas estilo vale-tudo.
Competição, individualismo, violência como prazer...
O estuprador da menina de 8 anos já amou muito a sua mãe...mas só a mãe...
Temos algo em comum com esse estuprador? Sim. Ele ama, mas ama isolado. Ama abafado. Ama desconectado. Não ama.
Sabem o que matou o amor? O desenvolvimento. (Des) envolvimento. Desenvolver por desenvolver, é a filosofia da célula cancerosa.
Por isso defendo: não se des-envolva! Se envolva!
Se envolva com sua família, se envolva com a sociedade, não se segregue, se envolva com a natureza, se envolva com os índios, se envolva com seu professor, se envolva com vícios (literatura, música, arte...), se envolva com o povo, se envolva com os revolucionários!
Se envolva. Não se isole. Ame envolvido. Orgia social? Sim.
É o que nós professores fazemos sempre em sala de aula. Orgia social.
Abraço.

Estevan Bartoli

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