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quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Manaus da borracha: ilusão urbana ou Paris dos Trópicos?

Manaus da borracha: ilusão urbana ou Paris dos Trópicos?

                                                                                 A boa vida da ‘belle époque’ é uma falácia (Márcio Souza)

  Com a riqueza advinda da exploração dos trabalhadores nos seringais, Manaus, a capital mundial da borracha no final do século XIX pode reestruturar-se de acordo com os anseios de suas elites, que pretendiam modernizar e embelezar a cidade a seu critério. Para isso, era preciso destruir os antigos costumes e tradições, onde a população mais pobre acabava sendo prejudicada por serem expulsos das áreas a serem “modernizadas” e excluídos das suas benesses.
  Com o rápido crescimento da cidade que atraia cada vez mais fluxos migratórios, Manaus passou em 1852, de 8.500 habitantes, para 50.300 habitantes em 1890. Esse crescimento não foi compatível com a qualidade desejada pelas elites, que se esforçavam ao máximo em esconder as mazelas existentes na cidade.
  Encantado com o projeto urbanístico que copiavam padrões europeus, o então governador Eduardo Ribeiro passa a encampar tais reformas de modificação de Manaus. Os igarapés que atravessavam a cidade foram aterrados, as casas de taipa* foram destruídas, e assim as populações carentes e segregadas passaram a sofrer falta de água, saneamento, transporte e saúde, pois os sistemas implantados chegavam apenas para as residências da elite em ascensão. A ostentação e luxo dos casarões e do teatro Amazonas contrastava com a pobreza da maioria da população. Edinea Mascarenhas Dias (2007) em seu livro A ilusão do Fausto, descreve com clareza as condições das populações no período:

  O que se percebe, ao se tentar recuperar a constituição histórica de Manaus como capital da borracha, é que o poder público, associado aos interesses privados, desenvolve uma política de pressão, exclusão e dominação contra pessoas ou grupo de pessoas que emergem na cidade, e que não se enquadram nos conceitos dos valores da elite local. Foi necessário desenvolver uma política de preservação e defesa da ordem urbana e, na medida em que os valores são afrontados, cabiam providencias de excluir do espaço urbano os pobres, desocupados, doentes, pedintes, prostitutas, vadios, etc. Numa cidade de “fausto”, a doença, a pobreza, a vagabundagem agrediam e, ao mesmo tempo ameaçavam a ordem e a harmonia da cidade que se projetava na representação da burguesia, como limpa, ordeira e sem problemas (p.120).   

   Portanto, ao se ouvir falar que Manaus já foi rotulada como a “Paris dos Trópicos” como muitos propagam com orgulho, ou quando veneramos monumentos deixados pela “fase áurea”, cabe-nos fazer as ressalvas acima explicitadas, indagando se foram todos os citadinos e amazonenses que gozaram de tal prosperidade.

Estevan Bartoli

* casas de taipa: construídas a partir de madeiras cruzadas preenchidas com barro e com telhados de palha

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