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quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Problemas na expansão da Fronteira agropecuária: um quadro preocupante

Os vários projetos implementados após 1964 com o início da Ditadura Militar, trouxeram para a Amazônia uma gama de agentes que se apropriaram da terra e iniciaram um ciclo de devastação se precedentes. Com a construção de rodovias e estímulos variados ao avanço da agricultura na região (detalharemos tais projetos, órgãos e estratégias de ocupação na Unidade IV), intensificou-se a migração e a entrada de colonos sem qualquer critério de uso do solo. As particularidades naturais e a capacidade de suporte dos ecossistemas não foram respeitadas, e a atividade agropecuária foi inserida com grandes impactos ambientais. Distinguiremos os dois modos de uso da terra para produção agrícola mais utilizados na Amazônia, a itinerante e a capitalizada ou moderna.
A agricultura itinerante ou migratória, atualmente, está sendo realizada em cerca de 30% dos solos agriculturáveis do planeta e proporciona a subsistência para uma população estimada em mais de 250 milhões de pessoas, notadamente aquelas dos países mais pobres. Na região amazônica, a agricultura itinerante permanece ainda como um dos sistemas de uso da terra mais importante, tanto sob o ponto de vista econômico - responsável por pelo menos, 80% da produção de alimento total da região - como também pela quantidade de pessoas que dela dependem direta ou indiretamente. É um sistema tradicional de agricultura desenvolvida e praticada em quase toda a região por, pelo menos, 600 mil pequenos agricultores, produzindo principalmente, feijão, mandioca, arroz, milho, malva, juta, frutas, algodão entre outros produtos. Grandes áreas de florestas na Amazônia tem sido desmatadas para a prática da agricultura migratória.
Estudos realizados pela Embrapa da Amazônia Oriental demonstram que, apesar das pequenas áreas individuais usadas na prática desta atividade (entre 10 e 50 ha), os 600 mil produtores, cultivando em média 2 ha por dois anos consecutivos, e deixando esses 2 ha em pousio por cerca de 10 anos, provavelmente tenham provocado no mínimo o desmatamento de 1/5 do total desmatado na Amazônia, num processo que pode ser chamado de "desmatamento silencioso" .
Essa agricultura itinerante tradicional vem se desenvolvendo na Amazônia com a prática das queimadas no preparo da terra, onde ocorre a liberação de nutrientes com as cinzas da biomassa queimada.  Acontece que essa fertilidade gerada pelas cinzas é enganosa, pois o que ocorre é a perda de nutrientes minerais e da matéria orgânica, e com o tempo, os nutrientes fornecidos pelas cinzas são lavados pelas águas das chuvas. Outra conseqüência é a perda de 65% das espécies arbóreas nativas, que não conseguem se regenerar em ambientes degradados.   
Na agricultura capitalizada, de bases empresariais, uma novidade na região nos últimos anos cujo emblema maior é a soja (figura 2), a sustentabilidade agronômica (devido ao empobrecimento dos solos e pressão de doenças e pragas) apresenta níveis comprometedores a longo prazo. Além de causarem a substituição total da vegetação por culturas alheias ao ecossistema amazônico, reduzindo portanto,a biodiversidade em seu conjunto, a geração de empregos é baixa e a demanda por insumos externos (fertilizantes, agrotóxicos, etc) é alta, onde as conseqüências sociais desse processo  ocorrem com a desarticulação das cadeias produtivas tradicionais. Concentração de renda e da terra são outros aspectos negativos desse tipo de atividade.

Figura 2 – Evolução da área plantada de soja entre 1990-2006.
Fonte: Atlas da Questão Agrária Brasileira.  Eduardo Paulon Girardi – 2008

Outro problema se deve ao fato dos produtos produzidos em larga escala nas últimas décadas na Amazônia (as commodities soja, gado e minérios) não estão sendo processadas industrialmente na região, que passa a exportá-las in-natura, deixando de gerar renda e empregos no Brasil.
O avanço da agricultura capitalizada sobre a floresta, com intenso desmatamento, pode gerar diminuição do índice pluviométrico regional, pois como vimos no capítulo sobre o clima, 50% das chuvas são geradas pela própria floreta através da evapotranspiração. Mas ao contrário do que e propagado pela mídia, não é a soja a principal causadora do desmatamento, mas sim a pecuária como veremos. A longo prazo, solos exauridos, perda de biodiversidade e uma clima mais seco, será uma herança nada agradável para as futuras gerações se esse quadro continuar.

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