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quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Jardineiros e mudas



Meus anseios recentes indagam sobre a miséria existencial da classe média a que pertenço, pois numa luta de classes cada vez mais voraz, teimamos em nos esquivar dos problemas latentes e seguirmos pastando e almejando o status quo superior.
Defendemos a natureza, mas não queremos árvores em nossas calçadas, pois as suas folhas sujam nossas casas. Desejamos que os corruptos sejam punidos, mas se nossos filhos são presos, sempre damos um jeitinho daquele conhecido poderoso libertar e não punir os coitadinhos. Queremos o fim da pobreza, mas necessitamos de mão de obra barata para nos servir como empregados mal pagos...
Há abismos entre nossos discursos e nossas práticas.
E o como reagimos ao mundo em transe? Gastando mais em segurança privada do que na educação, nos escondendo nas cidades medievais cercadas de muros a que chamamos de condomínios, fugindo da cidade e dos bárbaros das classes baixas.
E por que somos assim? Pois somos seres que necessitamos de uma imagem superior, de nos reconhecermos como diferentes. E ser diferentes das classes mais baixas, é a maior honra que almejamos. Como ocorre? Pela capacidade de consumo. Compro, portanto me diferencio. Me exibo e apareço e à classe baixa não pertenço!  
Por isso decidi ser professor, pois tenho o segredo para transformar nossos seres narcísicos e mesquinhos em espíritos evoluídos e libertos! Simples: adubo da alma! Me permita a metáfora, mas enxergo meus alunos como mudas das mais nobres árvores, e os professores, como jardineiros pacientes do lento crescimento delas.
Três anos se passaram meu terceirão, muitas mudas se desenvolveram, outras teimaram em não crescer, e algumas cheias de espinhos adoraram nos espetar. Mas nós professores, jardineiros do conhecimento somos esperançosos e continuamos regando. Será que “pau que nasce torto nunca se endireita”? Presumo que não, pois nós, árvores-humanas somos diferentes das outras espécies, pois temos imensa adaptabilidade, comunicabilidade e infinita aprendizagem com que atravessamos nossas vidas.
Espero que nenhum de vocês se tornem bonsais, passando a vida toda lindos, mas sem crescer e apenas servindo de inútil enfeite num canto de uma sala fria. Espero que vocês não sejam podados pelas intempéries da vida e que desistam de ser uma grande árvore, dama suprema da floresta, mãe e berço de muitas outras vidas.
Virão ventos fortes e ciclones, e vocês irão necessitar de raízes fortes, troncos firmes e galhos sadios.
E como ser um gigante “homem-Samaúma”, um “mogno humano” ou um “mutante Jacarandá”? Simples: adubo e fertilizante da alma! Eis alguns que lhes fortificarão a seiva bruta e a elaborada. Sugue pela raiz os seguintes adubos: Nietzche, Dostoievisky, Bach, Max Weber, Fellini, Freud, Beethoven, Karl Marx, Machado de Assis, Cartola, Frans Kafka, Émile Zolá, Milton Santos, João Cabral de Melo Neto, Gabriel Garcia Márquez, Beethoven, Eduardo Galeano, Jimi Hendrix, Bertolt Brecht, Chico Xavier, Charles Baudelaire, etc, etc, etc. Ah como é vasto o mundo dos nutrientes! Como é rico o caminho do crescimento espiritual e cultural!
Bem, é hora da despedida, peço desculpas por não ter sido um jardineiro perfeito, pois também sou muda, e ainda necessito de muito adubo. E feliz confesso que vocês também me fertilizaram, mas de amor e alegria. Nos encontramos nas mais altas copas.

Professor Estevan Bartoli 

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